Gigante da carne suína espera lucrar ao poluir menos
A gigante americana de processamento de carne suína Smithfield Foods Inc. planeja cortar 25% de suas emissões de carbono em um período de oito anos, em uma ação voluntária com a qual a empresa acredita poder reduzir custos e renovar sua marca. A Smithfield irá reduzir as aplicações de fertilizantes usados na cultura de grãos para a fabricação de ração para porcos, e instalar sistema para extrair gás natural do esterco, entre outras medidas. O Fundo de Defesa Ambiental, organização não governamental dos Estados Unidos que trabalhou com a Smithfield no plano, informou que o compromisso da empresa é o mais ambicioso feito por um frigorífico americano até hoje para reduzir as emissões dos gases do efeito estufa. O diretor-presidente da Smithfield, Ken Sullivan, veterano da empresa que assumiu a liderança em janeiro, vê uma oportunidade comercial em emitir menos gases. Ele espera operações mais eficientes em energia que economizem dinheiro e impulsionem a presença da Smithfield em restaurantes e supermercados. Cerca de 70% dos consumidores americanos estão dispostos a pagar mais por um produto vendido como sustentável, segundo a empresa de pesquisa Nielsen. “Todos estão mais sensíveis a essas questões atualmente, incluindo nossos clientes”, diz Sullivan, que estima que a Smithfield já tenha investido dezenas de milhões de dólares em iniciativas ambientais. O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, prometeu reverter leis ambientais que, em sua visão, produzem desvantagens para as empresas americanas. Mas Sullivan diz que o plano de emissões da Smithfield é “apolítico” e não responde a nenhuma pressão regulatória. Em vez disso, é baseado em negócios e na crença de que é “a coisa certa”, diz. O WH Group Ltd., fornecedor chinês de carne suína que comprou a Smithfield em 2013 por US$ 4,7 bilhões, apoia o projeto. “Se você quer ser a maior empresa de carne suína do mundo, tem que ser líder”, diz Sullivan. Em 2013, a brasileira JBS se interessou em comprar a divisão de carne suína da Smithfield, mas foi superada pelo grupo chinês. A JBS já tinha adquirido, em 2008, as operações de carne bovina da Smithfield por US$ 565 milhões. O setor frigorífico americano, que movimenta US$ 198 bilhões ao ano, tem sido criticado ao longo dos anos por uma série de práticas, incluindo a forma como trata os animais, o uso de drogas como antibióticos e por poluir fontes de água com resíduos. Grupos ambientalistas também culpam o setor por sua contribuição descomunal às mudanças climáticas. As fazendas produtoras do país, que todos os anos fornecem 42,2 milhões de toneladas de carne de origem bovina, suína e de frango a restaurantes e varejistas, contribuem com a maior fatia dos 36% das emissões americanas que o governo atribui à agricultura. A Smithfield estima que emite cerca de 17 milhões de toneladas de dióxido de carbono, quase tanto quanto cinco usinas de energia movidas a carvão. Há muito a empresa é acusada de ser uma grande poluidora. Em 2002, contudo, a Smithfield contratou Dennis Treacy, ex-diretor do Departamento de Qualidade Ambiental do Estado de Virgínia, onde está localizada a sede da empresa, para ajudá-la a se tornar uma companhia mais sustentável ambientalmente. Treacy havia processado a Smithfield na década de 90 por violar a lei de resíduos líquidos. Na época, diz ele, “nós não víamos a Smithfield com bons olhos”. Em 2010, a Wal-Mart Stores Inc. fixou uma meta de eliminar 20 milhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa de sua rede de fornecimento e buscou fornecedores como a Smithfield. Treacy e Kraig Westerbeek, líder das operações ambientais e de apoio da Smithfield, reuniram-se com o Fundo de Defesa Ambiental em 2013 para elaborar planos que ajudassem os agricultores a reduzir a utilização de fertilizantes. Essas conversas levaram a projetos mais ambiciosos. “Ficamos mais à vontade com conversas desconfortáveis”, diz Maggie Monast, gerente de fontes sustentáveis de um grupo ambientalista de Nova York que ajudou a Smithfield a formatar o plano. A empresa contratou pesquisadores da Universidade de Minnesota para quantificar as emissões de carbono em todas suas operações. A maior contribuição é a do esterco suíno, até cerca de 35% do total. A produção e processamento de grãos contribuem com outros 25%. O transporte e abate de animais e a geração de energia para as unidades da Smithfield constituem o restante. Para reduzir o total em 25%, a Smithfield contratou agrônomos e comprou sensores para ajudar os agricultores a monitorar o conteúdo do solo e evitar a aplicação excessiva de fertilizantes como o nitrogênio, que emite óxido nitroso quando pulverizado nas plantações de milho. Algumas rotas percorridas pelos caminhões serão refeitas para reduzir as distâncias percorridas. As lagoas cheias de estrume de porco nas fazendas produtoras serão prioridade, diz Stewart Leeth, que este ano substituiu Treacy no comando do escritório de sustentabilidade. A Smithfield vai cobrir essas lagoas de dejetos e construir sistemas chamados digestoras anaeróbicas, que convertem metano em eletricidade ou gás natural que podem ser vendidos a empresas de energia locais. A cobertura desses açudes também reduz riscos de transbordamento com chuvas. A Smithfield tem investido nesses projetos desde a década de 90, com resultados variados. Os gestores acreditam que mais investimentos em tecnologia trarão mais resultados. Nos próximos cinco anos, a Smithfield pretende instalar sistemas de conversão em pelo menos 70 de suas 250 fazendas de suínos, comparado com 20 as atuais. Os críticos das mudanças climáticas como o Fundo de Defesa Ambiental consideram iniciativas como as da Smithfield como uma das melhores apostas para reduzir as emissões caso o governo de Trump adote um regime regulatório menos severo. “Isso mostra que as empresas estão olhando para o consumidor e indo além dos ciclos eleitorais”, diz Monast. “As pessoas querem saber o que está em sua comida e que tipo de impacto provoca. Fonte: PorkWorld
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